Olá pessoal!
Estava visitando o blog da Cris
Guerra e lá esta um post com o titulo Jornalistas, blogueiros, jornaleiros
e bloguistas comentando sobre uma matéria na
revista Galileu onde os blogs são colocados como novos grandes vilões da
sociedade, como se a maioria lucrasse horres. Acho interessante o debate. Aqui
na integra o post.
A
imprensa anda publicando matérias em que os blogs de moda são
colocados como os novos vilões da sociedade. Como sou uma das que começou essa
brincadeira toda (como
ilustra a linha do tempo da matéria da revista Galileu), acho importante colocar a
minha opinião sobre o assunto.
O lead (síntese
da matéria) da reportagem
da revista Galileu diz: “Cheias de audiência no site e de dinheiro no bolso, blogueiras se
tornam um canal de comunicação fundamental no mundo fashion. Mas muitas
chegaram lá enganando suas leitoras, com publicidade disfarçada”.
Matérias como essa podem ser bastante perigosas porque cometem o erro da
generalização, em que as pessoas são retratadas como se fizessem parte de uma
massa homogênea. Existem pessoas e pessoas, jornalistas e jornalistas, blogs e
blogs. Existem, inclusive, jornalistas que têm blogs. E blogueiros que se
tornaram jornalistas. E é preciso ser cuidadoso para diferenciar uns dos
outros.
Que os blogs se tornaram um canal
de comunicação fundamental, não há dúvidas. Já a informação de que as
blogueiras estão cheias de dinheiro no bolso é relativa. Gostaria que essa
fosse a minha realidade, trabalho para isso e não tenho vergonha de admitir.
Acho perfeitamente justo que um blog seja remunerado como recompensa por seu
sucesso. Blogar pode ser brincadeira para muita gente, até para mim, mas é uma
brincadeira que dá trabalho e presta um serviço. Nada mais natural que ser
remunerada por isso – e assumir para seus leitores que isso acontece.
Os blogs permitem aos produtos um
contato mais segmentado com seu público – inclusive na área dos comentários,
que é um canal considerável para diálogo entre marcas e consumidores. Antes, o
leitor de uma revista recebia a informação de moda como uma imposição – a moda
era feita de cima para baixo. Hoje, as mensagens caminham em todas as direções,
pessoas recomendam produtos umas às outras, leitores trocam informações e
opiniões – não apenas através dos blogs, mas das redes sociais como um todo. Os
blogs apresentam uma nova forma de interação e acabam funcionando como um canal
produtivo e bastante útil às marcas que querem conhecer melhor seus
consumidores ou até mesmo seus críticos. A verdade é que os meios de
comunicação tradicionais ficaram um pouco perdidos diante dessa nova realidade.
Mas jornais e revistas continuam
sendo necessários e essenciais, e os blogs não os substituem – e a meu ver, nem
o pretendem. É preciso saber diferenciar o papel dos blogs e dos meios de
comunicação de massa. A principal diferença: blogs têm conteúdo autoral. O blog tem uma cara, uma personalidade
por trás do seu conteúdo, alguém que responde por erros e acertos, e é preciso
ter coragem para isso.
Diante do universo interminável
da internet, os autores dos blogs funcionam como filtros, pessoas em quem
confiamos para nos mostrar o que há de mais relevante, no seu ponto de vista,
em um determinado universo. Portanto, não importa o tamanho do alcance de um
blog em termos numéricos de audiência, mas o poder de influência do seu autor.
Trata-se de uma pessoa cujo nome o leitor conhece e na qual confia. Pessoas
confiam em pessoas, mais do que em instituições. A grande questão diz respeito
à inserção da publicidade nesse contexto de recomendação. Por isso a clareza e
a transparência são fundamentais para que o autor do blog continue mantendo uma
relação de confiança com seu público.
Outra
grande diferença entre um blog e uma revista de moda é o fator realidade. Blogs
de moda, principalmente os de looks do dia – segmento no qual o Hoje Vou Assim é pioneiro -, estão antes de tudo
conectados com a vida real. O que os faz interessantes é saber que aqueles
looks foram de fato usados pela autora do blog, uma pessoa humana, factível. Em
alguns blogs, os looks do dia estão
se sofisticando a tal ponto, que o conceito de blog está sendo invertido. É
preciso se conectar de novo com o cotidiano, tirando o pé do tapete vermelho
para recolocá-lo no chão. Para sonhar, ver imagens perfeitas e produtos que só
uma parcela ínfima das pessoas pode comprar, prefiro abrir a revista Vogue.
Um blog só se torna
profissão quando é fruto de um gosto profundo de seu autor por aquele assunto.
O Hoje Vou Assim surgiu de um impulso, uma
brincadeira, mas tornou-se conhecido e ganhou audiência por ter algo
interessante a dizer para seus leitores. Quando criei o blog, em agosto de
2007, uma das coisas que eu tinha em mente era transmitir a informação de moda
visualmente, sem explicar, matematizar, colocar regras – isso se usa com
aquilo, essa cor combina com aquela etc. O conteúdo simples e direto do blog,
em formato de “editorial de moda da vida real”, fez a minha atividade crescer
tanto, que acabei mudando de profissão e me tornando uma formadora de opinião,
capaz de provocar mudanças na vida de algumas pessoas, impulsionar vendas e
movimentar o mercado. Se o Hoje Vou Assim se profissionalizou, é
porque sua verdade falou mais alto, tocou pessoas, atraiu um público fiel. Ao
ter o blog como profissão, tenho a consciência do seu alcance e da minha
responsabilidade.
Ao longo
do tempo, passei a estudar mais a moda, fui cobrir a São
Paulo Fashion Week para o jornalO Tempo pela primeira vez, ou seja, fiz
um estágio como jornalista, disposta a aprender mais sobre o assunto. Tudo isso,
sem perder a essência que fez o blog: um relacionamento natural com a moda,
como consumidora, e não exatamente como consultora. É esse o meu
posicionamento.
Minha intenção não é ditar
regras, mas emprestar meu ponto de vista e ajudar as pessoas a se relacionar
com a moda da mesma forma que eu me relaciono: tendo-a como uma aliada na
construção de sua autoestima.
Há dois anos, fui
convidada a falar sobre moda também no rádio. Na BandNews FM de Belo Horizonte, faço de
segunda a sexta uma espécie
de crônica sobre moda, colocando um olhar curioso e divertido sobre o
assunto, transmitindo informação com opinião e expressando um ponto de vista de
quem ama e usa a moda em seu dia a dia. A coluna é um sucesso entre homens e
mulheres. Além disso, rodo o Brasil com a palestra Moda
e Autoestima, em que conto como a minha relação com a moda ajudou
na (re)construção da minha autoestima. Para mim, o blog tornou-se também um
caminho de crescimento, mais do que um meio em si.
Neste
ponto, acho importante fazer outra diferenciação. A meu ver, as pessoas que
gostam de moda se dividem em dois grupos: os que veem a moda como imposição,
uniformizando-se e seguindo regras; e os que a usam a seu favor, fazendo o
exercício de encontrar-se nela e assim desenvolver o seu estilo. Sou do time
que acredita que a
moda pode ser um instrumento de diferenciação e reforço de identidade.
Particularmente, eu detesto o
termo blogueira, mesmo sendo
nomeada como uma delas. O som da palavra, definitivamente, não é bom. Desde a
primeira vez que ouvi, me soou como pejorativo. Quem trabalha em jornal é
jornalista e não gostaria de ser chamado de jornaleiro. O nomeblogueiro me passa a impressão de uma função
menor, não especializada. Tem sentido. Sua origem remete a algo feito por
prazer, hobby,
e não como profissão. Mas, como toda novidade, a atividade dos blogs evoluíu e
virou profissão para alguns – merecidamente, pois a conquista de um grande
público indica que existe um conteúdo relevante e um serviço prestado.
Portanto, aos autores de blogs cuja qualidade merece ser remunerada, vou chamar
elogiosamente de bloguistas.
E eu acredito que:
Blogueiros criam blogs unicamente
interessados na remuneração decorrente deles. Bloguistascriam blogs por
prazer e afinidade com um assunto, e assim criam conteúdos relevantes – a
remuneração é consequência, não objetivo.
Assim como existem blogueiros e bloguistas, existem leitores
e leitores. Há os que buscam um bom conteúdo, mas há também os essencialmente
consumistas, prontos para comprar e acatar qualquer recomendação, desde que ela
traga a expressão “última moda” ou algo que o valha.
BLOGUEIROS fazem blogs que são meros
incentivadores de consumo. BLOGUISTAS fazem
blogs geradores de valor, que provocam mudanças positivas na vida de seus
leitores. Naturalmente, a audiência se divide entre esses dois grupos.
BLOGUEIROS se prestam à uniformização. BLOGUISTAS acreditam e trabalham para despertar a
identidade de seus leitores.
Da mesma forma que os jornais e
revistas sobrevivem de sua publicidade, a principal receita de um blog vem do marketing. No caso de um banner, separado do conteúdo
do blog, não é necessário estar envolvido com a marca anunciada. Está claro que
aquele é um espaço publicitário que ajuda a subsidiar o blog. No entanto,
quando o produto estiver inserido no conteúdo do blog, o que também acontece
nas revistas de moda, é fundamental que ele tenha a ver com o dia a dia da
autora ou que seja um produto no qual ela realmente acredita. Posso até
recomendar uma marca de moda plus size,
não sendo plus size,
acreditando que ela pode ser coerente com meus leitores, bem como uma marca de
roupas masculinas que eu admire. Mas estou cansada de recusar propostas de
marcas e produtos nos quais eu não acredito, que não têm aderência com o meu
jeito de ser e nem com o perfil de quem me lê.
BLOGUEIROS aceitam boas propostas
financeiras. BLOGUISTAS aceitam
propostas de produtos nos quais acreditem, e sinalizam para o leitor que existe
uma publicidade ali. No Hoje Vou
Assim, o selo Publieditorial indica claramente quando isso
acontece. E quando alguma peça de roupa me foi dada de presente, a legenda
apresenta um link para o site da marca, diferentemente de outras peças.
O leitor não é desprovido de
inteligência. Sabe quando há intenção de vender a ele algum produto, não cai em
conversa pra boi dormir, assim como sabe que o intervalo comercial na TV tem a
intenção de vender produtos ou serviços. BLOGUEIROS pensam a curto prazo, interessados
antes de mais nada no retorno financeiro. BLOGUISTAS pensam a longo prazo, rejeitando
propostas de marcas ou produtos que não tenham a ver com eles. E assim prezam
pela vida longa de seus blogs, pois sabem que incentivar seus leitores a
consumir qualquer coisa é caminhar para o suicídio.
BLOGUEIROS não aceitam críticas em seus
espaços de comentários, moderando as mensagens ou apagando as que não lhe
agradam. BLOGUISTAS não escondem as críticas que recebem,
fazendo do espaço dos comentários uma extensão da sua verdade.
BLOGUEIROS não
geram conteúdo. Replicam. Vivem do Control C, Control V, sem colocar suas
opiniões para trabalhar. BLOGUISTAS prezam pela originalidade. São
transparentes, verdadeiros, espontâneos. E não têm medo de colocar o que
pensam, inclusive diante de críticas que possam receber. Não têm medo,
inclusive, de mudar de opinião. Porque BLOGUEIROS eBLOGUISTAS podem cometer erros. A diferença é que
os BLOGUISTAS estão preparados para admiti-los e
aprender com eles.
Eu também acredito que toda
pessoa cuja imagem atinge um número considerável de pessoas deve pensar no
tamanho de sua responsabilidade e procurar usar o seu poder de influência para
ajudar a provocar mudanças, envolvendo-se em causas sociais, mudanças de hábito,
atitudes que ajudam o mundo a ser melhor. Mas a grande maioria dos blogueiros
de moda faz jus ao rótulo de futilidade ao ignorar o mundo desigual que está à
nossa volta.
(Fica aqui a minha
dica para que mais blogs se engajem em causas como a do ChildFund
Brasil – um dos órgãos brasileiros que
realmente levam a sério a filantropia, e através do qual pode-se mudar
sensivelmente a realidade de uma criança através de um apadrinhamento que custa apenas 52 reais por
mês. O ChildFund
Brasil precisa, acima de tudo, ser mais
conhecido no Brasil, a fim de criar a cultura da solidariedade, mudando a
postura do brasileiro, acostumado a ser ajudado e não a ajudar.)
Em síntese, desde o surgimento e
boom dos blogs de moda, muitas BLOGUEIRAS se perderam no meio do caminho, se
descolaram de sua essência e deixaram os cifrões falarem mais alto. Mas, nessa
bolha de blogs, que em pouco tempo não vai ter espaço pra todo mundo,
naturalmente as mentiras vão se dissolver como castelos de areia. E só haverá
lugar para a verdade – ou seria para os BLOGUISTAS?
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