Um debate importante - RENATA FONSECA

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Um debate importante


Olá pessoal!

Estava visitando o blog da Cris Guerra e lá esta um post com o titulo Jornalistas, blogueiros, jornaleiros e bloguistas comentando sobre uma matéria na revista Galileu onde os blogs são colocados como novos grandes vilões da sociedade, como se a maioria lucrasse horres. Acho interessante o debate. Aqui na integra o post.

A imprensa anda publicando matérias em que os blogs de moda são colocados como os novos vilões da sociedade. Como sou uma das que começou essa brincadeira toda (como ilustra a linha do tempo da matéria da revista Galileu), acho importante colocar a minha opinião sobre o assunto.
O lead (síntese da matéria) da reportagem da revista Galileu diz: “Cheias de audiência no site e de dinheiro no bolso, blogueiras se tornam um canal de comunicação fundamental no mundo fashion. Mas muitas chegaram lá enganando suas leitoras, com publicidade disfarçada”. Matérias como essa podem ser bastante perigosas porque cometem o erro da generalização, em que as pessoas são retratadas como se fizessem parte de uma massa homogênea. Existem pessoas e pessoas, jornalistas e jornalistas, blogs e blogs. Existem, inclusive, jornalistas que têm blogs. E blogueiros que se tornaram jornalistas. E é preciso ser cuidadoso para diferenciar uns dos outros.
Que os blogs se tornaram um canal de comunicação fundamental, não há dúvidas. Já a informação de que as blogueiras estão cheias de dinheiro no bolso é relativa. Gostaria que essa fosse a minha realidade, trabalho para isso e não tenho vergonha de admitir. Acho perfeitamente justo que um blog seja remunerado como recompensa por seu sucesso. Blogar pode ser brincadeira para muita gente, até para mim, mas é uma brincadeira que dá trabalho e presta um serviço. Nada mais natural que ser remunerada por isso – e assumir para seus leitores que isso acontece.
Os blogs permitem aos produtos um contato mais segmentado com seu público – inclusive na área dos comentários, que é um canal considerável para diálogo entre marcas e consumidores. Antes, o leitor de uma revista recebia a informação de moda como uma imposição – a moda era feita de cima para baixo. Hoje, as mensagens caminham em todas as direções, pessoas recomendam produtos umas às outras, leitores trocam informações e opiniões – não apenas através dos blogs, mas das redes sociais como um todo. Os blogs apresentam uma nova forma de interação e acabam funcionando como um canal produtivo e bastante útil às marcas que querem conhecer melhor seus consumidores ou até mesmo seus críticos. A verdade é que os meios de comunicação tradicionais ficaram um pouco perdidos diante dessa nova realidade.
Mas jornais e revistas continuam sendo necessários e essenciais, e os blogs não os substituem – e a meu ver, nem o pretendem. É preciso saber diferenciar o papel dos blogs e dos meios de comunicação de massa. A principal diferença: blogs têm conteúdo autoral. O blog tem uma cara, uma personalidade por trás do seu conteúdo, alguém que responde por erros e acertos, e é preciso ter coragem para isso.
Diante do universo interminável da internet, os autores dos blogs funcionam como filtros, pessoas em quem confiamos para nos mostrar o que há de mais relevante, no seu ponto de vista, em um determinado universo. Portanto, não importa o tamanho do alcance de um blog em termos numéricos de audiência, mas o poder de influência do seu autor. Trata-se de uma pessoa cujo nome o leitor conhece e na qual confia. Pessoas confiam em pessoas, mais do que em instituições. A grande questão diz respeito à inserção da publicidade nesse contexto de recomendação. Por isso a clareza e a transparência são fundamentais para que o autor do blog continue mantendo uma relação de confiança com seu público.
Outra grande diferença entre um blog e uma revista de moda é o fator realidade. Blogs de moda, principalmente os de looks do dia – segmento no qual o Hoje Vou Assim é pioneiro -, estão antes de tudo conectados com a vida real. O que os faz interessantes é saber que aqueles looks foram de fato usados pela autora do blog, uma pessoa humana, factível. Em alguns blogs, os looks do dia estão se sofisticando a tal ponto, que o conceito de blog está sendo invertido. É preciso se conectar de novo com o cotidiano, tirando o pé do tapete vermelho para recolocá-lo no chão. Para sonhar, ver imagens perfeitas e produtos que só uma parcela ínfima das pessoas pode comprar, prefiro abrir a revista Vogue.
Um blog só se torna profissão quando é fruto de um gosto profundo de seu autor por aquele assunto. O Hoje Vou Assim surgiu de um impulso, uma brincadeira, mas tornou-se conhecido e ganhou audiência por ter algo interessante a dizer para seus leitores. Quando criei o blog, em agosto de 2007, uma das coisas que eu tinha em mente era transmitir a informação de moda visualmente, sem explicar, matematizar, colocar regras – isso se usa com aquilo, essa cor combina com aquela etc. O conteúdo simples e direto do blog, em formato de “editorial de moda da vida real”, fez a minha atividade crescer tanto, que acabei mudando de profissão e me tornando uma formadora de opinião, capaz de provocar mudanças na vida de algumas pessoas, impulsionar vendas e movimentar o mercado. Se o Hoje Vou Assim se profissionalizou, é porque sua verdade falou mais alto, tocou pessoas, atraiu um público fiel. Ao ter o blog como profissão, tenho a consciência do seu alcance e da minha responsabilidade.
Ao longo do tempo, passei a estudar mais a moda, fui cobrir a São Paulo Fashion Week para o jornalO Tempo pela primeira vez, ou seja, fiz um estágio como jornalista, disposta a aprender mais sobre o assunto. Tudo isso, sem perder a essência que fez o blog: um relacionamento natural com a moda, como consumidora, e não exatamente como consultora. É esse o meu posicionamento.
Minha intenção não é ditar regras, mas emprestar meu ponto de vista e ajudar as pessoas a se relacionar com a moda da mesma forma que eu me relaciono: tendo-a como uma aliada na construção de sua autoestima.
Há dois anos, fui convidada a falar sobre moda também no rádio. Na BandNews FM de Belo Horizonte, faço de segunda a sexta uma espécie de crônica sobre moda, colocando um olhar curioso e divertido sobre o assunto, transmitindo informação com opinião e expressando um ponto de vista de quem ama e usa a moda em seu dia a dia. A coluna é um sucesso entre homens e mulheres. Além disso, rodo o Brasil com a palestra Moda e Autoestima, em que conto como a minha relação com a moda ajudou na (re)construção da minha autoestima. Para mim, o blog tornou-se também um caminho de crescimento, mais do que um meio em si.
Neste ponto, acho importante fazer outra diferenciação. A meu ver, as pessoas que gostam de moda se dividem em dois grupos: os que veem a moda como imposição, uniformizando-se e seguindo regras; e os que a usam a seu favor, fazendo o exercício de encontrar-se nela e assim desenvolver o seu estilo. Sou do time que acredita que a moda pode ser um instrumento de diferenciação e reforço de identidade.
Particularmente, eu detesto o termo blogueira, mesmo sendo nomeada como uma delas. O som da palavra, definitivamente, não é bom. Desde a primeira vez que ouvi, me soou como pejorativo. Quem trabalha em jornal é jornalista e não gostaria de ser chamado de jornaleiro. O nomeblogueiro me passa a impressão de uma função menor, não especializada. Tem sentido. Sua origem remete a algo feito por prazer, hobby, e não como profissão. Mas, como toda novidade, a atividade dos blogs evoluíu e virou profissão para alguns – merecidamente, pois a conquista de um grande público indica que existe um conteúdo relevante e um serviço prestado. Portanto, aos autores de blogs cuja qualidade merece ser remunerada, vou chamar elogiosamente de bloguistas.
E eu acredito que:
Blogueiros criam blogs unicamente interessados na remuneração decorrente deles. Bloguistascriam blogs por prazer e afinidade com um assunto, e assim criam conteúdos relevantes – a remuneração é consequência, não objetivo.
Assim como existem blogueiros e bloguistas, existem leitores e leitores. Há os que buscam um bom conteúdo, mas há também os essencialmente consumistas, prontos para comprar e acatar qualquer recomendação, desde que ela traga a expressão “última moda” ou algo que o valha.
BLOGUEIROS fazem blogs que são meros incentivadores de consumo. BLOGUISTAS fazem blogs geradores de valor, que provocam mudanças positivas na vida de seus leitores. Naturalmente, a audiência se divide entre esses dois grupos.
BLOGUEIROS se prestam à uniformização. BLOGUISTAS acreditam e trabalham para despertar a identidade de seus leitores.
Da mesma forma que os jornais e revistas sobrevivem de sua publicidade, a principal receita de um blog vem do marketing. No caso de um banner, separado do conteúdo do blog, não é necessário estar envolvido com a marca anunciada. Está claro que aquele é um espaço publicitário que ajuda a subsidiar o blog. No entanto, quando o produto estiver inserido no conteúdo do blog, o que também acontece nas revistas de moda, é fundamental que ele tenha a ver com o dia a dia da autora ou que seja um produto no qual ela realmente acredita. Posso até recomendar uma marca de moda plus size, não sendo plus size, acreditando que ela pode ser coerente com meus leitores, bem como uma marca de roupas masculinas que eu admire. Mas estou cansada de recusar propostas de marcas e produtos nos quais eu não acredito, que não têm aderência com o meu jeito de ser e nem com o perfil de quem me lê.
BLOGUEIROS aceitam boas propostas financeiras. BLOGUISTAS aceitam propostas de produtos nos quais acreditem, e sinalizam para o leitor que existe uma publicidade ali. No Hoje Vou Assim, o selo Publieditorial indica claramente quando isso acontece. E quando alguma peça de roupa me foi dada de presente, a legenda apresenta um link para o site da marca, diferentemente de outras peças.
O leitor não é desprovido de inteligência. Sabe quando há intenção de vender a ele algum produto, não cai em conversa pra boi dormir, assim como sabe que o intervalo comercial na TV tem a intenção de vender produtos ou serviços. BLOGUEIROS pensam a curto prazo, interessados antes de mais nada no retorno financeiro. BLOGUISTAS pensam a longo prazo, rejeitando propostas de marcas ou produtos que não tenham a ver com eles. E assim prezam pela vida longa de seus blogs, pois sabem que incentivar seus leitores a consumir qualquer coisa é caminhar para o suicídio.
BLOGUEIROS não aceitam críticas em seus espaços de comentários, moderando as mensagens ou apagando as que não lhe agradam. BLOGUISTAS não escondem as críticas que recebem, fazendo do espaço dos comentários uma extensão da sua verdade.
BLOGUEIROS não geram conteúdo. Replicam. Vivem do Control C, Control V, sem colocar suas opiniões para trabalhar. BLOGUISTAS prezam pela originalidade. São transparentes, verdadeiros, espontâneos. E não têm medo de colocar o que pensam, inclusive diante de críticas que possam receber. Não têm medo, inclusive, de mudar de opinião. Porque BLOGUEIROS eBLOGUISTAS podem cometer erros. A diferença é que os BLOGUISTAS estão preparados para admiti-los e aprender com eles.
Eu também acredito que toda pessoa cuja imagem atinge um número considerável de pessoas deve pensar no tamanho de sua responsabilidade e procurar usar o seu poder de influência para ajudar a provocar mudanças, envolvendo-se em causas sociais, mudanças de hábito, atitudes que ajudam o mundo a ser melhor. Mas a grande maioria dos blogueiros de moda faz jus ao rótulo de futilidade ao ignorar o mundo desigual que está à nossa volta.
(Fica aqui a minha dica para que mais blogs se engajem em causas como a do ChildFund Brasil – um dos órgãos brasileiros que realmente levam a sério a filantropia, e através do qual pode-se mudar sensivelmente a realidade de uma criança através de um apadrinhamento que custa apenas 52 reais por mês. O ChildFund Brasil precisa, acima de tudo, ser mais conhecido no Brasil, a fim de criar a cultura da solidariedade, mudando a postura do brasileiro, acostumado a ser ajudado e não a ajudar.)
Em síntese, desde o surgimento e boom dos blogs de moda, muitas BLOGUEIRAS se perderam no meio do caminho, se descolaram de sua essência e deixaram os cifrões falarem mais alto. Mas, nessa bolha de blogs, que em pouco tempo não vai ter espaço pra todo mundo, naturalmente as mentiras vão se dissolver como castelos de areia. E só haverá lugar para a verdade – ou seria para os BLOGUISTAS?

 Créditos

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