Entrevista com Alexandre Herchcovitch - RENATA FONSECA

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Entrevista com Alexandre Herchcovitch

Acabei de lê essa entrevista e achei bem bacana. 

"O Brasil tem expertise de fazer roupa de periguete", diz Alexandre Herchcovitch



VIVIAN WHITEMAN
PEDRO DINIZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Alexandre Herchcovitch conquistou seu lugar no topo da moda brasileira com uma trajetória que começou nos anos 90 e que, de certa forma, se confunde com a evolução do design fashion nacional - sobretudo o de São Paulo. Do circuito clubber "alternativo" até as boutiques dos Jardins, o estilista imprimiu seu estilo com um misto de criatividade, tino para os negócios e tempero polêmico.
Hoje, no primeiro dia da edição Verão 2012/2013 da São Paulo Fashion Week, Herchcovitch mostrará uma coleção inspirada em um de seus ídolos, o cantor Boy George, no que deve ser uma espécie de síntese de suas raízes underground e da sofisticação de seu trabalho atual.
"Foi a coleção mais difícil de fazer até hoje, porque é a minha visão sobre um ídolo. Em 1983, tinha 12 anos, e lembro de estar em casa vendo o 'Fantástico', e vi 'Karma Chameleon '. Pensei... 'que coisa, isso pode, maquiagem, essa coisa toda? Já pode isso?' Muito fascinado, comecei a colecionar coisas dele e virei fã incondicional. Comecei a ler sobre sua vida e comprar seus discos. Tenho uma coleção gigantesca", diz.
Os chapéus da coleção foram desenhados por Stephen Jones, que também faz os chapéus de Boy George. "Ele [Stephen] está fazendo chapéus para a Dior, por isso não vem ao desfile. Escolhi um dos seis croquis que ele me mandou, e ficaram lindos. Tive tanto medo de extraviar as peças que fui buscá-las em Londres!", conta, entre risos.
Herchcovitch encontrou Boy George numa reunião de trabalho há alguns anos e pensou em convidá-lo para a SPFW, mas foi desencorajado pelo chapeleiro. "Jones disse que Boy George vai a lugares onde apenas ele brilhe, e que, provavelmente, não gostaria de ver uma interpretação sua na passarela. Então, tá, né?".
Num momento de transição da moda brasileira, Herchcovitch se destaca como um campeão fashion de licenciamentos (de roupa de cama a bolsas e sapatos) e diz que os designers precisam "cair na real": "Hoje, quem quiser sobreviver no Brasil, e competir, vai ter de fazer produto para a classe C e D".



O que você acha dessa história de existir alguma separação entre marcas comerciais e conceituais nas semanas de moda brasileiras?
Quando você faz algo com propriedade, não tem medo do que está a sua volta. Nem tudo é bom e nem tudo é ruim numa semana de moda, em todas elas. Eu desfilo em NY. Lá, tem marca que mostra camisa pólo que faz há 120 anos. Desculpa. Não fico dizendo que quero uma reunião com o Paulo Borges de NY para separar a minha marca, sabe? Você escolheu entrar na SPFW, você pode escolher sair da SPFW. Ninguém vai pensar: "Ai, o Alexandre está no meio da SPFW, então ele é ruim, porque tem outras marcas que são ruins". E tem mais, quem será o Deus pra julgar quem é quem? Quem é unanimidade na moda para separar os bons dos menos bons? Então acho assim, isso é tudo uma merda, cada um tem de cuidar do seu, fazer o melhor e ter a coragem de mostrar. Eu tive de colocar travesti na passarela, de botar homem de salto. Tô falando de 20 anos atrás. Já fiz a semana de três dias do Phytoervas Fashion, eu tava lá. Depois, foi Morumbi Fashion, Paris, depois semana de moda de Nova York... Nunca reclamei das pessoas que estavam do meu lado, sempre fiz meu trabalho, sempre olhei pra mim.
Você se incomoda de estar numa matéria ao lado de uma grife comercial?
Imagina! Gente, vocês acham que eu vivo do quê? Vivo de vender roupa, só que o caminho que eu escolhi é diferente dos outros. Como eu não tenho muita verba para comprar cem páginas de revistas por ano, para anunciar, o meu momento é o desfile. Conversei com todas as editoras de revistas e todas falaram que o Fashion Rio estava muito fraco. Então você tem de saber o que pôr na passarela, porque desfile virou coisa banal, todo mundo faz desfile. Você precisa diferenciar aquilo que vai mostrar para revistas, críticos de moda, e o que é para um representante comercial, para o público final.
E o que o público final, em geral, quer?
Vamos cair na real gente. O Brasil tem expertise de fazer roupa popular, de periguete. A gente também tem que olhar para isso. Pensei no banho hoje e queria falar. O que vendo mais e o que vendo menos? O que minha empresa é hoje? Uma empresa voltada para o licenciamento para as classes C e D. É isso o que está vendendo gente! Não se vende tanto vestido de R$ 10 mil. O que vende muito são meus edredons de R$250, meus sapatos de R$ 129. Só que não vou deixar de fazer meus vestidos caros, porque também tenho clientes que os querem. Hoje, quem quiser sobreviver no Brasil, e competir, vai ter de fazer produto para as classes C e D.
No que se refere ao luxo, o que você acha da concorrência com as grifes internacionais?
Nossa roupa não é bem feita, não dá pra competir com marca de fora, não temos o mesmo acesso aos tecidos. Se compramos esses tecidos, a roupa fica caríssima, e a gente não pode competir. Tem de cair na real. Eu faço hoje a melhor roupa possível, com o melhor tecido possível, dentro de um padrão que me permita vender no Brasil.
E quem é sua cliente?
Eu faço a roupa e quem quiser compra, jogando a verdade, é isso. Já tentei fazer essa coisa de " estilo da brasileira", um certo padrão, mas não tenho mão para isso. Começo a fazer e sai outra coisa. Poucas marcas sabem desse gosto geral do Brasil. Isso não é um problema, pois o país é grande e há variedade de gostos. Minha marca conquistou seu espaço. Se minha roupa fosse periguete, teria mais clientes, mas não sei fazer. O lance é saber ajustar expectativas.


Site:http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1101975-o-brasil-tem-expertise-de-fazer-roupa-de-periguete-diz-alexandre-herchcovitch.shtml

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