Mulher na história: Olga Metting - RENATA FONSECA

terça-feira, 28 de abril de 2020

Mulher na história: Olga Metting

Olá pessoal!!

Uma grande mulher baiana e importantíssima na educação.

Olga Pereira Mettig, mais conhecida como Olga Mettig,  nasceu em Cachoeira, no dia 6 de maio de 1914, sendo seus pais Ricardo Vieira Pereira e Georgeta Motta Pereira. Era neta do jornalista Augusto Ferreira Motta (fundador de O Guarany, o jornal mais antigo de Cachoeira) e irmã de Georgeta Motta Pereira (mais conhecida como Nola Araújo, escritora, jornalista e memorialista).
Cursou as primeiras letras em sua cidade natal. Concluído o curso secundário, ingressou na Escola Normal da Bahia, onde foi diplomada professora primária. Aprovada em concurso para o magistério público, foi designada para dirigir, sucessivamente, duas escolas estaduais. Depois, se submeteu  a um novo concurso e passou a inspetora de ensino.
Seu desejo era organizar e dirigir uma escola própria, na qual pudesse impor suas ideias, seu método de ensino e sua orientação. Para realizar seu ideal, ingressou na Faculdade de Filosofia, concluiu o curso de licenciatura em Pedagogia e fundou, no ano de 1948, a Escola Nossa Senhora do Carmo, no bairro da Mouraria, em Salvador.
Em 1951, ela fundou o Ginásio Nossa Senhora do Carmo.  Em 1955,  o Curso Normal e a Faculdade de Educação.
O colégio funcionou inicialmente com uma estrutura muito simples. Com o passar do tempo, a professora Olga foi percebendo a necessidade de montar um curso de graduação equivalente ao do magistério de 2º grau. “Nossa estrutura, disse a professora Olga Mettig, foi ganhando notoriedade, pois tínhamos os melhores professores e um currículo bastante rico que, de certa forma, ocupava o lugar da Faculdade que as mulheres geralmente não faziam”. 




Para ampliar os conhecimentos dos alunos, a professora Olga Mettig criou os chamados “estudos adicionais” que consistiam numa espécie de estudos avançados, capazes de permitir o acesso ao ensino superior. A iniciativa logrou o sucesso esperado, permitindo inclusive, sensível melhoria do ensino do 3º grau.
O sucesso do Colégio Nossa Senhora do Carmo rompeu os padrões educacionais da época, permitindo a elaboração de uma metodologia própria. Em consequência disso, a professora Olga, em colaboração com a professora Lígia Lordello,  publicou uma série de  livros didáticos amplamente adotados na Bahia e em outras unidades da Federação. De 1950 a 1985  foram editados trinta livros de Geografia, Gramática e  História do Brasil, entre muitos outros, ultrapassando um total de duas mil edições. Dificilmente se encontra um professor baiano, pelo menos nas gerações mais antigas, que não tenha estudado nesses livros.
Em 1964 a professora Olga construiu um edifício de cinco andares, onde passaram a funcionar, sob sua direção, os cursos primários, ginasial  e  normal. Três anos depois, criou a Faculdade de Educação, a primeira do Norte e Nordeste, a segunda do Brasil.
O passo seguinte foi à criação das Faculdades Integradas Olga Mettig, instituição que passou a abrigar as Faculdades de Educação, Administração e  Turismo (esta última, a primeira da Bahia). Fundou o Centro de Estudos de Pós-Graduação Olga Mettig, especializado em cursos de extensão e pós-graduação em diversas áreas. Criou a Faculdade Livre da Terceira Idade, fiel ao seu antigo desejo de estender as benesses da educação a um público pouco respeitado e desasticido.
Ela viveu uma vida dedicada à informação e à formação. Presenciou momentos históricos importantes e, ora consciente ora intuitivamente, soube aproveitá-los para acelerar transformações que julgava necessárias ao crescimento da Educação no País.

A educação da década de 1950 acompanhou o percurso sociocultural originado no início do século XX: uma sociedade patriarcal e androcêntrica que atribuía às mulheres a responsabilidade pela educação moral dos filhos, bem como colocava em suas mãos o futuro da nação, a ideologia do progresso e a responsabilidade pela perpetuação da fé cristã.

Ser professora era uma das únicas profissões aceitas pela sociedade do século XIX e início do seguinte. Na sala de aula, a voz da mulher começou a ser ouvida e multiplicada. A função de ensinar a tornava respeitada, a fazia prosperar e, em alguns casos obter poder político.

Alguns aspectos chamam atenção na vida da professora Olga, um deles diz respeito ao fato dela ter subvertido as regras sociais de sua época e, ainda na primeira metade do século XX, ter iniciado uma carreira profissional respeitada e profícua.

Ela definia sua profissão como um sacerdócio, “O magistério é um encargo adequado para quem pode vivê-lo como um sacerdócio”, declaração dada numa entrevista concedida ao jornal A Tarde em 03 de março de 2002.

Olga afirmava que tinha algumas fontes que alimentavam sua formação, a exemplo de Rousseau, Platão, Jean Piaget, George Gusdorf, Santo Agostinho, Descartes, Anísio Teixeira e Pierre Furter. Em uma entrevista afirma que: “Minha vida não se pauta numa linha filosófica específica. Há sim uma ordenação de sistemas que fazem parte das vivências adquiridas através dos estudos e realidades práticas. É a filosofia de procurar o bem para o bem viver”. (SILVA, 1987, p. 9).

Preocupada com os rumos da educação no país, a educadora afirma ser o ensino e a aprendizagem os únicos mecanismos capazes de ampliar a consciência do homem e proporcionar o crescimento necessário pra impulsionar a civilização.
Em depoimento ao Jornal A Tarde (1987, p. 9), afirmou:
Professora Olga foi membro da Diretoria do Sindicato de Estabelecimentos de Ensino da Bahia entre 1959/1961 e 1961/1969, Membro da comissão de planejamento da Jornada de Diretores de estabelecimentos de Ensino Médio – Inspetora Seccional da Bahia - e participou de três congressos de Estabelecimentos de Ensino – Rio de Janeiro (1960), São Paulo (1962) e Paraná (1966); tem artigos especializados em educação publicados na Revista “Cultura” da Faculdade de Filosofia da UFBA; foi professora de psicologia e didática da Escola Normal Nossa Senhora do Carmo; e recebeu o título de
mestra emérita da Faculdade de Educação da Bahia e membro titular da Academia Baiana de Educação.

A experiência da sala de aula a levou a perceber, ao lado da professora Ligia, a carência de um material didático compatível com sua metodologia de ensino. A professora Olga foi autora de uma conhecida e renomada coleção de livros didáticos, destinados aos alunos do Ensino Fundamental – antigo Curso primário – da 1ª a 5ª série. Eles apresentaram os conteúdos programáticos das disciplinas: português, matemática, geografia, história do Brasil e ciências naturais, escritos em parceria com a profª Lígia Lordello de Magalhães e publicados pela Editora do Brasil.

Estes livros tornaram-se referência para a facilitação do processo ensino-aprendizagem nas escolas de 1º grau, dando-lhe uma feição renovada durante as décadas de 50 a 80, não somente em Salvador como em todo o Estado da Bahia. De forma pioneira introduziram, através de uma linguagem didática e acessível a crianças, adolescentes e adultos em busca de escolarização, uma maneira dinâmica e moderna de explicar os conteúdos a serem estudados, estabelecendo uma interação aluno x professor e fazendo-os vivenciar, com prazer, a realidade e a propriedade dos assuntos focalizados e dos conhecimentos adquiridos. Conseguiram com essa nova metodologia, tirar os tabus do alunado, frustrado em relação às dificuldades apresentadas em determinadas disciplinas, os antigos compêndios, apesar de instrutivos, não conseguiam despertar-lhe o interesse devido à linguagem impessoal, abstrata e de difícil compreensão.

Os famosos livros da Profª Olga, de incontestável valor didático e informativo, tiveram grande aceitação nas escolas públicas e privadas, concorrendo com publicações congêneres e primaram sempre pela excelente qualidade das suas lições, ricas em criatividade e originalidade de apresentação, procurando desenvolver habilidades e competências inerentes às propostas pedagógicas vigentes na época.

Entre 1950 e 1985 o nome da professora estava impresso nos livros didáticos adotados em quase todas as escolas de Salvador e do interior do estado. “Em 1948 os alunos reclamavam das letras miúdas da gramática de Gaspar de Freitas, a mais utilizada então. Resolvemos, por isso, descomplicar aquela gramática fazendo uma nova” (Jornal da Bahia, 1967), lembra Mettig, usando o plural para se referir à co-autora dos livros, Maria Lígia Lordello de Magalhães, companheira de trabalho nas FaMettig. De início, dois mil exemplares da gramática foram vendidos apenas entre os alunos do colégio Nossa Senhora do Carmo. Não demorou a que outras escolas requisitassem.

Os livros deixaram de ser publicados em 1985, 18 anos depois de a professora fundar, em 1967, a primeira Faculdade de Educação da Bahia - FEBA, e um ano após a criação da também pioneira Faculdade de Turismo da Bahia - FACTUR. “Paramos porque o trabalho na faculdade nos absorvia muito e percebemos que vinham surgindo outras boas publicações” (Jornal Correio da Bahia, 1998).

Além de homenagens, como ter o nome na praça em um bairro em Salvador, a professora recebeu o título de Mulher do Ano, concedido pelo Woman Internacional Club, a Medalha Maria Quitéria, oferecida pela Câmara Municipal de Salvador, o diploma Abílio César Borges, oferecido pela Secretaria Estadual de Educação, e o título de Educadora do Ano.

Objeto de muitas homenagens ao longo de sua vida acadêmica, a professora Olga nunca se acomodou. Aos 88 anos liderou uma equipe de suas faculdades no curso de Gestão e Marketing do Centro de Tecnologia do Comportamento, para melhorar a qualidade do atendimento aos alunos de sua Instituição.

Olga Mettig faleceu no dia 22 de abril de 2004, pouco antes de completar 90 anos de idade.

Nenhum comentário:

@renatafashionfonseca