Mulher na história: Virgínia Bicudo - RENATA FONSECA

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Mulher na história: Virgínia Bicudo

Olá pessoal!

Google sempre coloca na página principal datas importantes, pessoas que tiveram importância na história. Fiquei curiosa com o que falava sobre Virgínia Bicudo e li todo o texto e achei sensacional.
Como sabemos pouco sobre nossa história!

Segue o texto resumido.



Neta de escrava alforriada, ela foi à primeira mulher a fazer análise na América Latina e disseminou esse saber pelo País.

Virgínia Leone Bicudo (1910-2003), paulistana, filha de uma imigrante italiana branca e de um brasileiro negro, neta de uma escrava alforriada, foi a primeira mulher a fazer análise na América Latina.

Foi a primeira pessoa a escrever uma tese sobre relações raciais no Brasil, inaugurando, na academia, o debate sobre racismo. Foi também a primeira psicanalista não-médica no país. Tantas credenciais desta psicanalista e socióloga e, no entanto, seu nome, seu protagonismo e sua história se tornaram invisíveis a muitos brasileiros.

A história pessoal de Virgínia, marcada pela percepção do preconceito de cor e pelo sofrimento derivado dessa discriminação, incidiu sobre as escolhas profissionais dela ao se tornar pesquisadora e definir, como objeto de estudo, as relações raciais, observa Ana Paula Braga em seu artigo.

"Eu me interessei muito cedo por esse lado social. Não foi por acaso que procurei psicanálise e sociologia. Veja bem o que fiz: eu fui buscar defesas científicas para o íntimo, o psíquico, para conciliar a pessoa de dentro com a de fora. Fui procurar na sociologia a explicação para questões de status social. E, na psicanálise, proteção para a expectativa de rejeição. Essa é a história", diz Virgínia, em uma entrevista de 1998.

Até chegar à psicanálise, Virgínia foi buscar respostas na sociologia. Em 1935, já graduada como educadora sanitária, matriculou-se na Escola de Sociologia e Política: "Eu queria me aliviar de sofrer. Imaginava que a causa do meu sofrimento fossem problemas sociais, culturais", diz, em um depoimento de 1995.

No segundo ano do curso, conheceu a psicologia social e, por consequência, as ideias de inconsciente de Sigmund Freud. Foi o suficiente para despertar o desejo de se tornar psicanalista. Assim, chegou ao médico e professor Durval Marcondes, que lhe recomendou procurar a psicanalista judia alemã Adelheid Koch, vinda ao Brasil para escapar do nazismo. "Eu fui a primeira pessoa que usou o divã da Doutora Koch", diz em uma entrevista de 1995.

Marcondes havia fundado a Sociedade Brasileira de Psicanálise (SBPSP) em 1927. Virgínia se juntou a ele em sua luta para desenvolver este saber em São Paulo e se ligou à SBPSP por toda sua vida, lembra ao HuffPost Brasil a psicanalista Maria Ângela Gomes Moretzsohn, também membro da SBPSP.

Em 1970, a pioneira fundou o Grupo Psicanalítico de Brasília e, mais tarde, o Instituto de Psicanálise da capital federal.

De acordo com Moretzsohn, em um programa na rádio Excelsior chamado Nosso Mundo Mental, Virgínia interpretava situações envolvendo temas como inconsciente, inveja, agressividade, ciúmes, amor e ódio. Tudo em forma de radioteatro.

"Em 1954, desenvolvi um programa de divulgação de princípios de higiene mental segundo a psicanálise, através da dramatização de textos que eu compunha, e que eram levados ao ar semanalmente", explicou Virgínia, segundo o pesquisador Jorge Luís Ferreira Abraão.

O programa deu origem uma coluna dominical no Jornal da Manhã, com o mesmo nome. Em 1956, os textos se transformaram no livro Nosso Mundo Mental, de autoria de Virgínia Bicudo.

A pesquisadora lembra que Virgínia entendia, por meio do trabalho dela, que os efeitos do racismo passavam de geração para geração. "Foram 300 anos de escravidão. Esse passado é de todos."

Em seus 92 anos de vida, Virgínia desbravou ambientes predominantemente brancos e masculinos. Como lembra Braga, até a primeira metade do século 20, a produção acadêmica das ciências sociais vinha praticamente de homens brancos, alguns negros e pobres; algumas mulheres, somente brancas. Porém, a ideologia de branqueamento no Brasil, como se refere o pesquisador Marcos Chor, ficou evidente. No documento como professora de higiene Mental e psicanálise, Virgínia é identificada como "branca".

Não foi a primeira vez que faltou reconhecimento da obra e da pessoa que Virgínia era. Em 1955, a Unesco financiou o maior projeto de pesquisa sobre relações sociais no Brasil. Conhecido como Unesco-Anhembi, o projeto derrubou a tese de que tínhamos uma democracia racial no País. A pesquisa de Virgínia Bicudo, pioneira e fundamental para o tema, foi publicada como um apêndice do estudo, e completamente excluída da segunda edição, em 1959, como lamenta Braga em seu artigo.

O golpe mais cruel, porém, veio da saúde mental. A psicanalista foi essencial para que a SBPSP aceitasse entre seus membros analistas leigos, ou seja, não médicos. Porém, durante o 1º Congresso Latino-Americano de Saúde Mental, em 1954, ela foi alvo de hostilidades por ser uma psicanalista não-médica.

Na época, médicos chegaram a distribuir panfletos com os dizeres "Se eres neurótico e queres se tornar psicótico, procura a doutora Virgínia Bicudo. Se trate com a doutora Virgínia Bicudo”.

Ao transitar da dor do preconceito para a investigação das próprias origens, Virgínia evidenciou sua força e determinação, reforça Moretzsohn:

"Não é difícil imaginar que a vida de Virgínia, em instituições nas quais era praticamente inexistente a presença de pessoas negras, não era fácil. Ela voltou a abordar a questão racial em momentos diferentes de sua vida, se referindo sempre a ela como uma grande experiência na esfera da dor."

Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Virg%C3%ADnia_Leone_Bicudo

 



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