A DAMA DA MODA
Olá pessoal!
Achei essa entrevista quando estava olhando o que podia salvar de outro blog que tenho e que vai acabar em 1 de dezembro. Estou absolutamente arrasada com o fim do blog, mas o que não tem remédio remediado está! Como o assunto tem tudo haver com moda resolvi postar aqui uma entrevista com Cristina Franco.
Cristina Franco é uma das pessoas que mais entendem de moda, pra quem não sabe moda não é só roupa também é decoração, estilo, cultura, educação e por ai vai.
Pena que nem todo mundo sabe disso! Em seguida a entrevista que saiu no jornal Correio da Bahia de domingo.
“A DAMA DA MODA”
Cristina Franco foi um ícone do jornalismo de moda de televisão nos anos 80. Foram 15 anos à frente da coluna Ponto de Vista, exibida todos os sábados no Jornal Hoje. A carioca, que já entrevistou nomes como Christian Lacroix e Jean Paul Gaultier, tem experiência de sobra quando o assunto é o mundo fashion e muita história para contar.
Vivendo na Bahia há sete anos, nesta entrevista ela fala do seu forte vínculo com moda, cultura e a pesquisa. Elegantérrima, Cristina não olha para o passado, critica a falta de conteúdo no jornalismo de moda na TV e acredita que a mulher baiana tem um jeito peculiar de se vestir.
Você foi pioneira no jornalismo de moda na televisão. Muita coisa mudou. Qual o seu “ponto de vista”?
Acho que temos que contextualizar a época em que trabalhávamos para comparar com os dias de hoje. Vivíamos em um mundo pré-internet, pré-TV a cabo. Tudo era muito mais difícil. Tínhamos que fazer um esforço absurdo para que a notícia não envelhecesse. Não havia as ferramentas que se tem hoje. O que deu certo? Éramos muito comprometidos. Estou falando de todos que viviam aquele período. Hoje as coisas são muito mais fáceis, principalmente do ponto de vista tecnológico. Acho que a informação ficou mais fácil e democratizada. Mas o que sinto mais é a falta de conteúdo.
Você saiu da Globo em 1996. Como vem sendo sua relação com a moda desde então?
Minha vida não parou em 1996. Fiz muitas consultorias e trabalhos com empresas. Venho fazendo esse trabalho até hoje. Fiquei muito ligada à cultura. Bom exemplo foi o meu primeiro trabalho pós-Globo com a H.Stern. Na época, Roberto Stern, que hoje é CO, queria dar uma repaginada na empresa. No mesmo período, Jean Paul Gaultier tinha feito uma coleção inspirada nas tatuagens dos aborígines. Eu me encantei. Daí pensei em como fazer uma releitura para a nossa identidade. A arte indígena é a minha grande paixão. Logo a pintura corporal dos Kadivews, índios cavaleiros do Mato Grosso do Sul, me chamou atenção. Roberto comprou a ideia e fizemos uma pesquisa em cima de toda a riqueza dessa arte. A coleção foi lançada e nunca mais deixei de me interessar por esse universo.
Como você avalia a moda no Nordeste, comparando com regiões como o Sudeste?
Está cada dia mais difícil de fazer esse tipo de divisão. O Brasil cresceu muito. Estamos vivendo um momento em que todo mundo tem acesso a tudo. As pessoas do Sudeste têm dificuldade de entender que existem mudanças de eixos que são irreversíveis. Há um crescimento no Nordeste. No consumo, produção e produtividade. Com a facilidade da informação, os consumidores dessas regiões são importantes para um equilíbrio econômico.
O mesmo acontece com o mundo. O Ocidente tem que entender que a Ásia está poderosíssima. Seja China, Índia ou Vietnã. Ninguém mais pode falar de moda sem conhecer geopolítica. Nada mais está desassociado.
Você veio morar na Bahia há sete anos por causa de seu atual marido. Está bem adaptada?
Gosto muito desta terra. Não é de hoje que venho à Bahia. Tenho grandes amigos aqui.
Como você define o estilo da mulher baiana?
Ela tem uma exuberância que é típica de toda pessoa que mora no litoral. A relação com o corpo das mulheres que vivem à beira da praia é muito diferente das outras regiões, mais urbanas. Adoro essa manemolência.
E o seu estilo?
Sou uma grande mistura. Até porque fiquei muito tempo fora. É isso que você está vendo aqui.
Para você, qual o conceito de elegância?
Hoje, os conceitos de elegância mudaram muito. Em 1980, quando entrevistei o Christian Lacroix, um homem não só elegante, mas muito inteligente, perguntei sobre elegância. Ele disse que ela não está na roupa, mas no coração, nas atitudes. Cada dia avalio menos as pessoas pela roupa. Admiro aqueles que se vestem bem, mas valorizo mais o comportamento.
Para onde a moda está seguindo? Será o fim das tendências, como muitos especialistas vêm afirmando?
O mundo hoje tem uma diversidade muito grande. As formas de vestir são variadas e existem muitas referências a culturas que antes não chegavam até nós. Por isso é muito difícil falar de moda. Hoje você fala de mercados consumidores. Um exemplo é a coleção de Jean Paul Gaultier para o Inverno. Basta olhar para perceber que ele faz um trabalho interessante, como se fosse um passeio étnico pelo mundo. Todas as mulheres têm a cabeça com algum adereço ou coberta. É óbvio que ele está fazendo isso por causa do mundo islâmico. Hoje, 1/4 da população mundial é islâmica. É um estilista cosmopolita, pensando uma forma de vestir mais lúdica, mas respeitando um código cultural. Não importa se você trabalha em Paris ou Londres. Se existem mercados definidos, você tem que ser inteligente para trabalhar para eles.
Entre os novos talentos do mundo fashion, qual nome você indicaria como uma grande promessa?
Estou muita entusiasmada com o Pedro Lourenço, filho de Glória Coelho e Reinaldo Lourenço. Conheci Pedro ainda na barriga de Glória. Me lembro bem de vê-lo desenhando quando criança. Tinha um traço belíssimo e fazia figuras femininas alongadas interessantes. Ele entrou para o mundo da moda e está se saindo muito bem.
Você já entrevistou grandes mitos mundiais, como Diana Ross e Tina Turner. Qual foi a reportagem mais marcante da sua carreira?
A tristeza de Winnie Mandela. Esse momento nunca mais saiu da minha cabeça. Ela foi a mulher mais triste que entrevistei em toda minha vida. Para mim, a única unanimidade no mundo é Nelson Mandela. E conseguimos uma entrevista com a esposa dele para o Jornal da Globo. A trajetória dessa mulher foi triste, mas ao mesmo tempo muito bela. Já entrevistei muitas personalidades, mas como ela nunca vi igual.
Achei curiosa uma frase que você disse recentemente numa entrevista à revista Vogue: “Não guardo esqueletos no armário”. Qual o verdadeiro sentido?
Temos muitas perdas na vida. Podemos aprender de uma forma dura. Isso na minha vida é uma coisa muito clara. Mas a pessoa não pode ser amarga, nem colocar a culpa nos outros. Temos que seguir em frente.
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