Mulher na história: Hannah Arendt - RENATA FONSECA

terça-feira, 5 de outubro de 2021

Mulher na história: Hannah Arendt

Olá pessoal!

Mais uma grande filosofa que conheço, mas que nunca li nenhum livro, apenas gosto bastante de algumas coisas que ela diz e coloco algumas frases aqui no blog.

É necessário sabermos mais sobre Hannah Arendt, uma mulher que está na história.

Hannah Arendt (nascida Johanna Arendt; Linden, 14 de outubro de 1906 – Nova Iorque, Estados Unidos, 4 de dezembro de 1975) foi uma filósofa política alemã de origem judaica, uma das mais influentes do século XX.

A privação de direitos e perseguição de pessoas de origem judaica ocorrida na Alemanha a partir de 1933, assim como o seu breve encarceramento nesse mesmo ano, fizeram-na decidir emigrar. O regime nazista retirou-lhe a nacionalidade em 1937, o que a tornou apátrida até conseguir a nacionalidade norte-americana em 1951. Trabalhou, entre outras atividades, como jornalista e professora universitária e publicou obras importantes sobre filosofia política. Contudo, recusava ser classificada como "filósofa" e também se distanciava do termo "filosofia política"; preferia que suas publicações fossem classificadas dentro da "teoria política".

Arendt defendia um conceito de "pluralismo" no âmbito político. Graças ao pluralismo, o potencial de uma liberdade e igualdade política seria gerado entre as pessoas. Importante é a perspectiva da inclusão do Outro. Como frutos desses pensamentos, Arendt se situava de forma crítica ante a democracia representativa e preferia um sistema de conselhos ou formas de democracia direta. Entretanto, ela continua sendo estudada como filósofa, em grande parte devido a suas discussões críticas de filósofos como Sócrates, Platão, Aristóteles, Immanuel Kant, Martin Heidegger e Karl Jaspers, além de representantes importantes da filosofia moderna como Maquiavel e Montesquieu. Justamente graças ao seu pensamento independente, a teoria do totalitarismo (Theorie der totalen Herrschaft), seus trabalhos sobre filosofia existencial e sua reivindicação da discussão política livre, Arendt tem um papel central nos debates contemporâneos.

Como fontes de suas investigações Arendt usa, para além de documentos filosóficos, políticos e históricos, biografias e obras literárias. Esses textos são interpretados de forma literal e confrontados com seus pensamentos. Seu sistema de análise - parcialmente influenciado por Heidegger - a converte em uma pensadora original situada entre diferentes campos de conhecimento e especialidades universitárias. O seu devenir pessoal e o de seu pensamento mostram um importante grau de coincidência.

Hannah Arendt nasceu em 1906 no seio de uma família de judeus secularizados, em Linden, hoje bairro de Hanôver. Seus antepassados vieram de Königsberg, na Prússia (a cidade atual russa de Kaliningrado), para onde voltaram seu pai, o engenheiro Paul Arendt, que sofria de sífilis, sua mãe Martha e ela, quando Hannah tinha somente três anos. Depois da morte de seu pai, em 1913, foi educada de forma bastante liberal por sua mãe, que tinha tendências social-democratas. Nos círculos intelectuais de Königsberg nos quais se criou, a educação de meninas era comum. Através de seus avós, conheceu o judaísmo reformista. Não pertencia a nenhuma comunidade religiosa, mas sempre se considerou judia, inclusive participando do movimento sionista.

Aos quatorze anos, já havia lido a Crítica da razão pura de Kant e a Psicologia das concepções do mundo de Jaspers. Aos 17 anos é obrigada a abandonar a escola por problemas disciplinares, indo então, sozinha, para Berlim, onde, sem haver concluído sua formação, teve aulas de teologia cristã e estudou pela primeira vez a obra de Søren Kierkegaard. De volta a Königsberg em 1924, foi aprovada no exame de maturidade (Abitur).

Em 1924, começa seus estudos na Universidade de Marburg e durante um ano assiste às aulas de filosofia de Martin Heidegger e de Nicolai Hartmann, e as de teologia protestante de Rudolf Bultmann, além de estudar grego.
Heidegger, pai de família de 35 anos, e Arendt, estudante, dezessete anos mais jovem que ele, foram amantes, ainda que tivessem de manter em segredo a relação. No começo de 1926, por não suportar mais tal situação, decidiu trocar de universidade, indo para a Universidade Albert Ludwig de Freiburg, para estudar sob a orientação de Edmund Husserl. Ela também estudou filosofia na Universidade de Heidelberg e se formou em 1928, sob a tutoria de Karl Jaspers, com a tese O conceito de amor em Santo Agostinho. A amizade com Jaspers duraria até a morte do filósofo.

Arendt havia levado uma vida muito recatada em Marburg, como consequência do segredo de sua relação com Heidegger. Mantinha amizade apenas com outros alunos, como Hans Jonas, e com seus amigos de Königsberg. Em Heidelberg, ampliou seu círculo de amigos ao qual pertenceram Karl Frankenstein, que, em 1928, apresentou uma dissertação histórico-filosófica, Erich Neumann, seguidor de Jung, e Erwin Loewenson, um ensaísta expressionista.

Em Berlim, 1929, Arendt reencontra Günther Stern (que se chamaria mais tarde Günther Anders), que conhecera em Marburg. Pouco mais tarde, mudou para viver com ele, algo que foi mal visto pela sociedade da época. Nesse mesmo ano, casaram-se. O casamento duraria até 1937. O casal passou um ano em Frankfurt. Arendt escrevia para o jornal Frankfurter Zeitung e participava de seminários de Paul Tillich e Karl Mannheim, de cujo livro Ideologia e utopia elaborou uma resenha crítica. Ao mesmo tempo, estudava a obra de Rahel Varnhagen, uma intelectual judia assimilada, convertida ao cristianismo, que viveu entre os séculos XVIII e XIX.
Quando ficou claro que a tese de Stern não seria aceita por Theodor Adorno, os dois voltaram para Berlim. Lá, Arendt começou a elaborar uma tese sobre a obra de Rahel Varnhagen. Depois de uma avaliação positiva de Jaspers, que também conseguiu outras de Heidegger e de Martin Dibelius, Arendt obteve uma bolsa de estudos na Notgemeinschaft der Deutschen Wissenschaft (Associação de ajuda para a ciência alemã). Simultaneamente, Arendt começou a se interessar cada vez mais por questões políticas. Leu Marx e Trotsky e estabeleceu contatos na Hochschule für Politik (Escola superior de política). Analisou a exclusão social dos judeus, apesar da assimilação, com base no conceito de "pária", empregado pela primeira vez por Max Weber para falar dos judeus. Em 1932, publicou na revista Geschichte der Juden in Deutschland (História dos judeus na Alemanha) o artigo "Aufklärung und Judenfrage" ("O Iluminismo e a questão judaica"), no qual expõe suas ideias sobre a independência do judaísmo, contrapondo-as com as dos iluministas Gotthold Ephraim Lessing e Moses Mendelssohn e o precursor do Romantismo, Johann Gottfried Herder.

Também em 1932 escreve uma crítica do livro Das Frauenproblem in der Gegenwart (O problema da mulher na atualidade) de Alice Rühle-Gerstel, no qual comenta a emancipação da mulher na vida pública, mas também discute suas limitações — sobretudo no casamento e na vida profissional. Constata o "menosprezo fático" que sofre a mulher na sociedade e critica os deveres que não são compatíveis com sua independência. Em troca, Arendt contempla o feminismo à distância. Por um lado, insiste que as frentes políticas são "frentes de homens" e, por outro, considera "questionáveis" os movimentos feministas, assim como os movimentos juvenis, porque ambos — com estruturas que trespassam as classes sociais — têm que fracassar em seu intento de criar partidos políticos influentes.
Pouco antes da ascensão de Hitler ao poder, Karl Jaspers tenta convencê-la em várias cartas de que ela devia considerar-se alemã. Ela rebate, escrevendo: "Para mim, Alemanha é a língua materna, a filosofia e a poesia". No mais, sentia-se distante. Em especial critica a expressão "o ser (Wesen) alemã" empregada por Jaspers. Este lhe respondeu: "Estranho que você, como judia, queira diferenciar-se dos alemães". Ambos também manteriam estas posições após a Guerra.

Em 1932, Arendt já pensava na emigração, mas inicialmente ficou na Alemanha quando seu marido emigrou para Paris, em março de 1933, e começou sua atividade política. Por recomendação de Kurt Blumenfeld, trabalhou para uma organização sionista, estudando a perseguição dos judeus, que estava no começo na Alemanha nazista. Sua casa serviu de estação de trânsito para refugiados. Em julho de 1933, ela foi detida durante oito dias pela Gestapo.


Já em 1933, Arendt defendia a postura de que se devia lutar ativamente contra o nacional-socialismo. Essa posição é contrária à de muitos intelectuais alemães, inclusive alguns de origem judaica, que pretendiam se aproximar do nacional-socialismo, subestimando a ditadura e inclusive elogiando os novos donos do poder. Na entrevista com Gaus, ela expressa seu desprezo pela "Gleichschaltung" ("adaptação" ao novo regime) da maioria dos intelectuais. A questão repugnava Arendt e ela não queria ter nada em comum com esses eruditos de manada, oportunistas ou mesmo entusiastas.

Essa experiência de profundo afastamento de seus amigos é descrita várias vezes em suas obras e em sua correspondência. Ela partia da convicção de que se tratava de decisões voluntárias, pelas quais o indivíduo era responsável. Pouco antes de sua morte sustentou que muitos pensadores fracassaram frente ao nacional-socialismo quando se comprometeram com o regime. Arendt não exigia deles uma oposição ativa. Reconhecia já o silêncio como uma recusa do totalitarismo.


Outro círculo de amigos se abriu graças à sua amizade com Benno von Wiese e seus estudos com Friedrich Gundolf, que lhe havia recomendado Jaspers. Sua amizade com Kurt Blumenfeld, diretor e porta-voz do movimento sionista alemão, cujos estudos tratavam da chamada questão judaica e da assimilação cultural também foi importante. Hannah Arendt agradeceu-lhe em uma carta de 1951 o seu próprio entendimento da situação dos judeus.

Em 1933 (ano da tomada do poder de Hitler) Arendt, por ser judia, foi proibida de defender uma segunda tese (sobre Rahel Varnahagen), que lhe daria o acesso à docência nas universidades alemãs. O seu crescente envolvimento com o sionismo levá-la-ia a colidir com o antissemitismo do Terceiro Reich - o que a conduziria, seguramente, à prisão. Deixou a Alemanha, passando por Praga e Genebra antes de chegar a Paris, onde trabalhou nos seis anos seguintes com crianças judias expatriadas e tornou-se amiga do crítico literário e filósofo marxista Walter Benjamin. Quando a França foi ocupada pelos alemães, Arendt foi presa juntamente com seu segundo marido, o filósofo "marxista crítico" Heinrich Blücher, e ficou internada no campo de concentração de Gurs. Em 1941 conseguiu escapar e fugir para os Estados Unidos, através de Espanha e Portugal, com a ajuda do jornalista americano Varian Fry.


Hannah Arendt chegou a Lisboa em janeiro de 1941 após ter casado pela segunda vez com o poeta Heinrich Blücher escapando in extremis da França ocupada pelos nazis com o seu marido e a sua mãe. Conseguiu passar as fronteiras mediante documentos falsos obtidos pelo grande economista e historiador das ideias Albert Hirschman que tinha lutado pelos republicanos na Guerra Civil de Espanha.

Hannah Arendt chegou a Lisboa devastada pela notícia da morte do seu amigo Walter Benjamin, que se suicidara uns meses antes ao não conseguir atravessar a fronteira entre França e Espanha com destino a Lisboa. Hannah e o marido transportavam o manuscrito das Teses sobre a filosofia da história que Benjamin escrevera no início do ano anterior e que lhes enviara por segurança. Do pouco que se sabe que Hannah Arendt fez em Lisboa, além de lutar contra a depressão e esperar por papéis e passagens para Nova Iorque, foi ler o ensaio de Walter Benjamin, assumindo a responsabilidade de o fazer publicar nos EUA.

Segundo Rui Tavares, a estada paralisante de Hannah Arendt em Lisboa, pelo seu peso emocional e pelo desespero surdo, reflete-se principalmente no seu extraordinário ensaio Nós Refugiados que publicou em 1943 e que lhe permitiu entender, como pessoa refugiada e apátrida, que a cidadania é o primeiro dos direitos, “o direito a ter direitos” segundo ela, e que esteve na origem da sua relevante filosofia dos direitos humanos.
Trabalhou nos Estados Unidos em diversas editoras e organizações judaicas, tendo escrito para o Weekly Aufba.

Depois da guerra, Arendt ainda regressaria à Alemanha e reencontraria o seu antigo mentor Martin Heidegger, que estava afastado do ensino, dadas as suas simpatias pelo nazismo. Envolver-se-ia, pessoalmente, na reabilitação do filósofo alemão, o que lhe valeria severas críticas das associações judaicas americanas. Do relacionamento de ambos, ao longo de décadas (inclusive durante o exílio nos Estados Unidos), seria publicado um livro marcante, Lettres et autres documents, 1925-1975, Hannah Arendt, Martin Heidegger, com edição alemã e tradução francesa da responsabilidade das éditions Gallimard.
Em 1963 Hannah Arendt é contratada como professora da Universidade de Chicago, onde ensina até 1967, ano em que se muda para Nova York e passa a lecionar na New School for Social Research, instituição em que permanece até à sua morte em 1975.
Hannah Arendt faleceu em 1975, e está sepultada em Bard College, Annandale-on-Hudson, Nova York nos Estados Unidos.

https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Hannah_Arendt

 

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