Olá pessoal!
Uma música que marcou minha infância foi Sonho meu na voz de
Maria Bethania composta pela primeira mulher compositora de samba Dona Yvone
Lara.
Não sabia que ela tinha trabalho com Dra Nise da Silveira uma
grande psiquiatra. Fique ainda mais fã.
A seguir mais sobre a vida dessa grande sambista.
Yvonne Lara da Costa, mais conhecida como Dona Ivone Lara
(Rio de Janeiro, 13 de abril de 1922 – Rio de Janeiro, 16 de abril de 2018),
foi uma cantora e compositora brasileira. Conhecida como Rainha do Samba e
Grande Dama do Samba ela foi a primeira mulher a assinar um samba-enredo e a
fazer parte da ala de compositores de uma escola, a Império Serrano.
Dona Ivone Lara nasceu em 13 de abril de 1922,
na Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro. Foi a
primeira filha da união entre a costureira Emerentina Bento da Silva e João da
Silva Lara. Paralelamente ao trabalho, ambos tinham intensa vida musical: ele
era violonista de sete cordas e desfilava no Bloco dos Africanos; ela era ótima
cantora e emprestava sua voz de soprano a ranchos carnavalescos tradicionais do
Rio de Janeiro, como o Flor do Abacate e o Ameno Resedá – nos quais seu João
também se apresentava. Formada em enfermagem e serviço social, foi uma
profissional na área durante mais de trinta anos até se aposentar em 1977.
Com a morte do pai, com menos de três anos de idade, e da mãe
aos dezesseis, foi criada pelos tios e com eles aprendeu a tocar cavaquinho e a
ouvir samba ao lado do primo Mestre Fuleiro; teve aulas de canto com Lucília
Guimarães e recebeu elogios do marido desta, o maestro Villa-Lobos.
Casou-se em 4 de dezembro de 1947 com Oscar Costa, filho de
Alfredo Costa, presidente da escola de samba Prazer da Serrinha, com quem teve
dois filhos, Alfredo e Odir. Foram casados durante 28 anos, até a morte de
Oscar. Foi no Prazer da Serrinha onde conheceu alguns compositores que viriam a
ser seus parceiros em algumas composições, como Mano Décio da Viola e Silas de
Oliveira. Em 2008 ela perde seu filho Odir, vítima de complicações decorrentes
da diabetes.
Carreira como profissional de Saúde
Aos dezessete anos, Ivone entrou para a
faculdade de enfermagem da atual Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro (UNIRIO), onde se graduou enfermeira. Aos 21 anos, prestou concurso
público para o Ministério da Saúde e aos 25 foi contratada pelo Instituto de
Psiquiatria do Engenho de Dentro. Lá, especializou-se em terapia ocupacional
com a médica psiquiatra Nise da Silveira, área em que desempenhou um papel
fundamental na reforma psiquiátrica no Brasil a partir da década de 1970.
Durante mais de três décadas ela atuou na Colônia Juliano Moreira, com
pacientes de doenças mentais.
Ivone Lara também foi uma das primeiras mulheres formadas em
assistência social no Brasil e uma das primeiras mulheres negras com curso
superior no país. Seu trabalho nessa área foi tão importante que em 2016, a
professora da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ), Graziela Scheffer, publicou o artigo acadêmico "Serviço
Social e Dona Ivone Lara: o lado negro e laico da nossa história
profissional".
Em uma época em que pacientes de doenças mentais eram
institucionalizados e abandonados pela família, Ivone se deslocava para os
municípios do Rio e de estados vizinhos, localizando parentes dos internos para
apresentar uma visão diferente da maioria dos diagnósticos médicos, que
desacreditavam a condição mental dessas pessoas. Tudo isso fazia parte de uma
rotina terapêutica e de uma visão completamente nova que humanizava o
tratamento da saúde mental. Além disso, Ivone trouxe a terapia musical para
seus pacientes no Instituto de Psiquiatria do Engenho de Dentro. Usando seus
contatos, conseguia patrocínio para os instrumentos e a criação de uma oficina
de música, que passou a apoiar festas e eventos de socialização entre os
pacientes, seus familiares e os funcionários do hospital. Essa oficina mais
tarde deu origem ao bloco de carnaval "Loucura Suburbana", que existe
até hoje. Em 1977, Ivone se aposentou da carreira em enfermagem e assistência
social para se dedicar integralmente à sua carreira musical.
Compôs o samba Nasci para Sofrer, que se tornou o hino da
escola de samba Prazer da Serrinha, fundada na década de 40 e extinta em 1952.
Com a fundação da escola de samba Império Serrano em 1947, passou a desfilar na
ala das baianas. Também compôs o samba Não Me Perguntes, e a consagração veio
em 1965, com Os Cinco Bailes da História do Rio, quando se tornou a primeira
mulher a fazer parte da ala de compositores da escola de samba.
Em 1975, seu filho Odir sofreu um acidente de carro, e por
causa disso seu marido Oscar Costa teve um infarto fulminante e morreu. Apesar
de seu marido nunca ter nada contra sua carreira, ele não gostava das rodas de
samba.
Dois anos depois, Ivone se aposentou da carreira
como profissional da Saúde e passou a dedicar-se exclusivamente à carreira
artística. Entre os intérpretes que gravaram suas composições destacam-se Clara
Nunes, Roberto Ribeiro, Maria Bethânia, Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto
Gil, Paula Toller, Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Mariene de Castro, Roberta
Sá, Marisa Monte e Dorina. Uma de suas composições mais conhecidas, em parceria
com Délcio Carvalho, foi Sonho Meu, sucesso na voz de Maria Bethânia e Gal
Costa em 1978, cujo álbum ultrapassou um milhão de cópias vendidas.
Dona Ivone também teve trabalhos como atriz, com participação
em filmes, e foi a Tia Nastácia em especiais do programa Sítio do Pica-Pau
Amarelo. Em 2008, interpretou a canção Mas Quem Disse Que Eu Te Esqueço no
projeto Samba Social Clube. A faixa foi incluída, no ano seguinte, em uma
coletânea com as melhores performances do projeto.
Em 2012, foi homenageada pelo Império Serrano, no grupo de
acesso, com o enredo Dona Ivone Lara: O enredo do meu samba. Em 2010 foi a
homenageada na 21.ª edição do Prêmio da Música Brasileira. Em dezembro de 2014
foi a homenageada na 19.ª edição do Trem do Samba. Um mês antes, Dona Ivone
havia participado do primeiro dia de gravações do Sambabook, em homenagem à sua
carreira da gravadora Musickeria. Cantores como Maria Bethânia, Elba Ramalho,
Criolo, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, Arlindo Cruz, Adriana Calcanhoto,
Zélia Duncan e Reinaldo, O Príncipe do Pagode fizeram versões de canções de
Dona Ivone, enquanto ela própria gravou com Diogo Nogueira uma canção inédita,
composta com seu neto, André. Em 2015, entrou para a lista das "Dez
Grandes Mulheres que Marcaram a História do Rio".
Dona Ivone morreu no dia 16 de abril de 2018 aos 96 anos, em
consequencia de um quadro de insuficiência cardiorrespiratória após permanecer
internada por três dias no Centro de Tratamento e Terapia Intensiva (CTI) da
Coordenação de Emergência Regional (CER) no Rio de Janeiro. O velório aconteceu
na Quadra do Império Serrano, sua escola do coração, em Madureira, na Zona
Norte da cidade. O enterro de Dona Ivone aconteceu no Cemitério de Inhaúma, no
Rio de Janeiro.
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