Olá pessoal!
Estava lendo a coluna de Walcyr Carrasco na revista Época e adorei. Tudo haver com moda e sobre a necessidade de se vestir adequadamente.
A seguir o texto na íntegra.
Vergonha alheia. É o que sinto quando vou a um coquetel no final da tarde em São Paulo. As mulheres assemelham-se a abajures de tão cheias de brilhos. Os homens de terno escuro. Se se vestem assim num coquetel relaxado, como será em noite elegante? De forma semelhante. Os homens sempre de escuro, como pardais pousados num fio elétrico. As mulheres se diferenciam entre as que parecem candelabros acesos e as que optam pelo pretinho básico. Uma papisa da moda, não lembro quem, disse certa vez que toda mulher precisa ter um vestido preto no armário, ideal para qualquer ocasião. Funciona como um seguro chiqueza. É falta de imaginação. Ficam parecidas com guarda-chuvas fechados. No passado, já vi damas de casacos de pele em pleno verão. Talvez levassem um ventilador portátil na bolsa. O politicamente correto as proibiu. Hoje, elas se refugiam nas bolsas, como símbolo máximo de status. Quanto mais difícil e caro for o modelo, melhor. Ou nas joias, quando podem. São objetos rituais tão importantes para marcar posição na tribo como o osso trespassado no nariz nas antigas caricaturas de povos africanos.
O fim de ano se aproxima, e, com ele, uma longa temporada de festas. O livro Com que roupa?, de Christiane Fleury e Hiluz del Priore, dá umas dicas bem legais. Christiane e Hiluz foram jornalistas de moda muitos anos. Explicam como é o traje exigido em convites – item com que a maioria das pessoas ainda fica confusa.
Esporte – segundo as autoras, ideal para festas e almoços durante o dia. Não significa que se deva usar moletons, tênis de corrida ou a camisa do time. Mas sim roupas leves, como jeans ou linho.
Passeio – para jantares, eventos culturais, teatro e restaurantes sofisticados. Para as mulheres, vestidos curtos em tecidos finos – seda ou crepe. Ou terninhos. Os homens podem dispensar a gravata, mas não o paletó ou blazer.
Tenue de ville ou passeio completo –Coquetéis, jantares formais, casamentos. Vestidos curtos. Salto alto e bolsa pequena. Para eles, terno escuro e gravata.
Traje a rigor ou black-tie – É uma roupa noturna. Costuma ser pedida em grandes festas e cerimônias importantes. Vestidos sofisticados, em tecidos nobres, brilhos, transparências. Saltos altos. Os homens não têm escolha: smoking. E aí vai um conselho meu: nada mais pavoroso que faixa e gravata em cores fortes, como vermelho ou verde. Já vi. É para o sujeito que quer aparecer. Melhor tentar o posto de rainha de bateria no próximo Carnaval.
Gostei do livro porque eu mesmo já me atrapalhei no figurino. Uma vez fui a um aniversário de jeans e tênis achando que era uma festinha só para os amigos. O cortejo dos convidados era mais ofuscante que uma escola de samba. Fiquei tão constrangido que até pedi desculpas ao dono da festa:
– Não sabia que era pra vir bem vestido.
– Tudo bem. Podia vir de qualquer jeito.
Animador!
Quem não passou por um desconforto assim?
Já vi muita mulher madura de roupa de garotinha: jeans, camisetinha brilhosa e mochila. Envelhece, em vez de rejuvenescer. Ou gorda sexy: bermuda colante, bustiê e o barrigão caindo em camadas para fora. Existe algo menos sensual? Sim, existe: a esquelética fazendo o mesmo estilo. Pior ainda é convidada de casamento de branco, que nem a noiva. É péssimo. Francamente: vestir-se de maneira pelo menos razoável é uma dificuldade. Principalmente porque a relação da gente com o espelho nunca é absolutamente sincera.
O livro é destinado a mulheres, mas pode inspirar os homens. A principal dica é: construa seu estilo pessoal. Eu já tentei, e não é fácil. Grandes confecções – incluindo as grifes – não gostam de arriscar. Nas passarelas, sim, botam as modelos com roupas malucas. Na coleção comercial, partem para o óbvio, com poucos detalhes para diferenciar. Tanto que as grifes em ascensão são as que produzem itens absolutamente artesanais, incluindo algumas masculinas. Para um homem, é tão difícil encontrar algo diferente, além das gravatas, que já tive vontade de sair na rua fantasiado de Mickey. Talvez ainda tome coragem e faça isso qualquer hora.
Mas é possível construir um estilo. Há regras, mas quebrá-las também é uma opção, desde que com consciência. O segredo é não se agarrar às grifes como mariscos às rochas. Uma roupa faz a gente sentir-se confortável. E também especial. Como ouvi um sábio dizer certa vez, o modo de se vestir ainda é a grande expressão da liberdade individual.
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