Mulher na história: Gisella Perl - RENATA FONSECA

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Mulher na história: Gisella Perl

Olá pessoal!!!

Mais uma mulher extraordinária que ficou na história.

"O Anjo de Auschwitz" O heroísmo trágico de Gisella Perl:

A ginecologista que salvava vidas de outras mulheres em Auschwitz

Forçada a trabalhar para o notório Dr. Josef Mengele em Auschwitz, Gisella Perl arriscou tudo para salvar tantas vidas quanto pode. 

Sob o olhar atento e perverso do dr. Josef Mengele, Perl percebeu que, para salvar a vida das mulheres sob seus cuidados, não podia entregar bebês com segurança. Em vez disso, Perl realizou abortos.

Gisella Perl nasceu na Hungria em 1907 (parte da Hungria, que após o tratado de paz Trianon de 4 de junho de 1920, se tornou parte da Romênia) e mostrou sinais de ser particularmente talentosa no início da vida. Na idade de 16 anos, Perl se formou pela primeira vez em sua classe do ensino secundário, tornando-se a primeira mulher e a única judia a ter feito isso. Levou adiante seus estudos, apesar da resistência do pai.

Perl mais tarde se casou com um cirurgião e trabalhava como ginecologista na Hungria quando os alemães invadiram em 1944. Naquele ano, os nazistas enviaram Perl e seu marido, filho, pais e parentes para Auschwitz. Uma jovem filha estava escondida com uma família não judia pouco antes da família de Perl ser retirada do gueto húngaro. Gisella tatuou a filha, a fim de encontrá-la mais tarde.

Ao chegar a Auschwitz, os nazistas separaram Perl do resto de sua família. Seu filho morreu em uma câmara de gás e seu marido foi espancado até a morte pouco antes do campo ser libertado. Gisella Perl foi poupada, apenas para se tornar uma médica de Auschwitz sob a supervisão do notório Josef Mengele.

Quando o Dr. Mengele percebeu que Perl tinha sido treinada em ginecologia, no entanto, ele viu uma oportunidade de obter informações sobre quais presas haviam chegado grávidas. Além de seus experimentos com gêmeos, Mengele também realizou experimentos horríveis em mulheres grávidas, incluindo vivissecção (experimentação e, em alguns casos, cirurgias semelhantes a autópsias realizadas em humanos vivos e despertos).

Mengele ordenou a Perl que ela relatasse todas as gravidezes diretamente a ele. As mulheres grávidas, ele disse, seriam enviadas para um campo diferente: com melhor cuidado para mãe e filho. Tendo já visto os horrores que os prisioneiros enfrentavam nas mãos dos nazistas, Perl sabia que não devia acreditar nele. Ela também sabia que não poderia contar a ele sobre uma única gravidez. Como ela os manteria em segredo, no entanto, ela ainda tinha que descobrir.

Perl então enfrentou uma enorme crise ética: se não entregasse os bebês para os médicos nazistas e eles descobrissem, sem dúvida ouviriam o choro das crianças, matariam todos no Campo de Concentração como punição. 

Então, apesar de ir contra o ensino e o código de ética, ela começou a realizar abortos rudimentares nos alojamentos.



"Centenas de vezes eu fiz parto prematuro", disse ela ao "The New York Times". "Ninguém saberá o que isso significou para mim, matar esses bebês, mas se eu não tivesse feito isso, tanto a mãe quanto a criança teriam sido cruelmente assassinadas em Auschwitz."

Em seu livro: "Eu fui médica em Auschwitz”, ela conta a história de uma jovem que chegou grávida e seu bebê foi entregue em segredo a Perl. A mãe foi enviada para a enfermaria com "pneumonia" (um disfarce escolhido porque a pneumonia não era punível com a morte, ao contrário da febre tifoide).

Perl tentou manter o bebê vivo, mas temia que seus gritos alertassem os guardas, o que significaria morte para mãe, filho e provavelmente todas as mulheres do Campo. "Eu não poderia mais escondê-lo", escreveu ela. "Eu peguei o corpinho quente em minhas mãos, beijei o rosto liso ... depois o estrangulei e enterrei seu corpo sob uma montanha de cadáveres esperando para ser cremado".

Ela pensou que estava fazendo o melhor que podia diante de circunstâncias inimaginavelmente terríveis. Como Perl escreveu: "não sabiam que teriam que pagar com suas vidas e com a vida de seus filhos por nascer".

Ainda sobre o livro, Perl descreve:

"A latrina de Auschwitz funcionava como um local de encontros. Era ali que prisioneiras e prisioneiros se encontravam para ter relações sexuais", escreveu Gisella em: "I was doctor in Auschwitz" ("Eu fui médica em Auschwitz")

Recorda a ginecologista Gisella Perl em seu livro: 

"Não era só uma forma de prostituição desesperada. Também havia uma luxúria incontrolável no lugar menos imaginável. "O nitrato de potássio que jogavam em nossa comida não era suficiente para matar o desejo sexual". O desejo sexual ainda era um dos instintos mais fortes", explicava. Era o pior lugar para fazer isso, mas algumas mulheres ficaram grávidas em Auschwitz e muitas outras já chegaram grávidas dos guetos".

A Dra Perl foi libertada de Auschwitz no final da guerra, nessa altura todos da sua família estavam mortos. Ela tentou cometer suicídio logo após sua libertação.

Depois de se recuperar, Perl foi para Nova York em 1947, onde foi interrogada por suspeita de auxiliar médicos nazistas. O testemunho dos presos salvou-a. Disse uma sobrevivente: "Sem o conhecimento médico da Dra Perl e a disposição de arriscar sua vida nos ajudando, seria impossível saber o que teria acontecido comigo e com muitas outras prisioneiras".

Em junho de 1948, Perl publicou sua história: Eu fui médica em Auschwitz, que foi adaptada em 2003 em uma minissérie ganhadora do Emmy, chamada: "Out Of The Ashes", estrelada por Christine Lahti.

Três anos depois, Perl ganhou a cidadania americana e tornou-se uma especialista em infertilidade no Hospital Mount Sinai, em Nova York, por sugestão de Eleanor Roosevelt, com quem ela estabeleceu um relacionamento profissional.

Ela também descobriu que a filha que ela havia escondido antes da guerra havia sobrevivido, e as duas se mudaram para Israel, parte de uma promessa que ela fez antes de ser separada do marido, encontrar a filha.

Perl viveu em Israel com sua filha até a sua morte em 1988.

Por muitos anos após os abortos que ela foi forçada a realizar em Auschwitz, a Dra. Gisella Perl realizou muitos partos com mais de 3.000 bebês saudáveis. Antes de cada entrega as mães, ela proferia a mesma oração: "Deus, você me deve uma vida - um bebê vivo".

Dois historiadores do Holocausto resgataram a "dramática" história de Gisella Perl em um artigo publicado na revista médica israelense Rambam Maimonides Medical Journal.

Perl salvou sua vida e, possivelmente, a de centenas de mulheres, como relembram os dois historiadores, o israelense Georg M. Weisz, da Universidade da Nova Inglaterra, e o alemão Konrad Kwiet, do Museu Judaico de Sidney, ambos na Austrália.




PERL, Gisella. I was doctor in Auschwitz, International Universities Press, New York, 1948.

Tradução:  © C.Wittel







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