O chapéu, a gravata e o relógio. À medida que a moda masculina fica mais despojada, os três adereços tendem a sumir. WALCYR CARRASCO - RENATA FONSECA

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O chapéu, a gravata e o relógio. À medida que a moda masculina fica mais despojada, os três adereços tendem a sumir. WALCYR CARRASCO

Achei legal esse texto de Walcyr falando da moda masculina do passado e como está no presente. Vale a leitura.

O chapéu, a gravata e o relógio. À medida que a moda masculina fica mais despojada, os três adereços tendem a sumir.  WALCYR CARRASCO

Houve um tempo em que homem não saía sem chapéu. Lembro-me de meu avô, de terno de linho branco, chapéu na cabeça. Não sei o que aconteceu. Com o tempo, o chapéu passou de objeto necessário a adorno. Muita gente usa, ainda. Eu, inclusive. Tenho vários, que boto quando quero fazer charme. Sempre digo que, aos 20 anos, barriguinha de tanque, basta uma camiseta e uma bermuda. Depois dos 60, é preciso criar um estilo. O chapéu ajuda. Embora botar uma cabeça de urso com orelhas peludas talvez desperte mais curiosidade. No fundo, quero mesmo aparecer. É simples: o chapéu caiu em desuso.

Acontece agora o mesmo com o relógio. Hoje em dia, com o celular, quem precisa de um? No passado, usava-se relógio de bolso. Perdeu o lugar para o de pulso, inventado por Santos Dumont. Ele precisava de um relógio fácil de consultar enquanto inventava o avião. A indústria faz o que pode. Cria relógios com cronômetros fantásticos, bons para esportistas. Lançaram modelos luxuosos. De ouro, platina, até com brilhantes. Custam fortunas. E conseguiram espalhar que “o relógio é a joia do homem”. Bobagem. Homem pode usar pulseira, corrente. Tenho um brinquinho na orelha esquerda. Tenho amigos que colecionam modelos de relógio. Só para olhar, porque não podem usar todos ao mesmo tempo, é obvio. Nem uma odalisca encheria os braços de relógios, quanto mais um marmanjão. Os de luxo, como ainda são objetos do desejo, costumam ser muito roubados. São vendidos facilmente no mercado negro. A verdade é que, no dia a dia, são usados cada vez menos. Gosto de relógio, não tenho nada contra. Há pouco tempo vi a foto de um todo branco, lindo! Ficaria ótimo para botar com chapéu!

Finalmente, a gravata. As grandes grifes lançam uma mais bonita que a outra. Mas a moda masculina se tornou mais relaxada. Graças a Deus. Botar paletó e gravata todo dia era um suplício. A testa pingando de calor, isso era elegante? Não nego, gosto de um paletó. Esconde, ou pelo menos disfarça, a barriga – o que, no meu caso, é muito útil. O uso de paletós com camisetas em gola V é uma tendência que está no auge. Nas produções de moda, em catálogos requintados, às vezes a gravata aparece amarrada na barriga ou na cabeça de um jovem modelo. Provavelmente porque o anunciante exigiu a presença do artefato, e a stilyst não sabe o que fazer com ele. A gravata está perdendo espaço mesmo nos eventos mais formais. É muito curioso, porque vou a festas em que a mulher parece um abajur, de tantos brilhos no vestido. E o acompanhante está de tênis, camiseta e paletó, bem relax.

Gosto de gravatas, pelo colorido que dão ao modo de trajar. Ninguém teve ainda coragem de lançar um terno vermelho ou laranja, mas acredito que, com a onda de descontração, esse tempo logo virá. Enquanto isso, a gravata bota o vermelho, o verde, o azul em cena. Só que foi quase expulsa da moda. É considerada símbolo de uma certa caretice de quem a usa. A não ser que combine paletó, gravata e bermudas. Alguns lugares, mais formais, mais acadêmicos e no alto empresariado, exigem seu uso. Fora daí, cada vez mais as pessoas trabalham como gostam. O resultado tende a ser trágico. Quando os homens eram obrigados a usar paletós, pelo menos havia uma certa uniformidade visual. Hoje há uma igualdade de diferente espécie: a maioria põe camisetas com estampas horrendas, apertadas ou largas demais, completadas por tênis sujos. Mas eles têm a sensação de liberdade – e isso é uma grande conquista.

A gravata caminha rapidamente para o mesmo lugar que o chapéu. Em alguns anos, será usada de vez em quando, por charme. Como sua irmã borboleta, expulsa do vestuário masculino. Só renasce quando alguém quer aparecer com um ar divertido ou excêntrico. Eu mesmo tinha uma coleção de borboletas e não sei onde botei. O relógio resiste mais, porque há grande investimento em torno dele. Com o tempo, se tornará o que já dizem que é: a joia masculina. Vou continuar botando os mais bonitos que tenho, só de vez em quando. Trabalho em casa, não tenho necessidade de me arrumar o tempo todo. Quando saio, tento ficar charmoso. Não é fácil, já que ultimamente minhas sobrancelhas crescem como antenas de besouro. No dia a dia, é inevitável: a moda masculina ficará cada vez mais despojada e, tal como o chapéu, a gravata e o relógio tendem a desaparecer do vestuário cotidiano.

Créditos: www.revistaepoca.com.br

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